terça-feira, 13 de agosto de 2013

O colorido na escuridão

Era como se fosse cega. Tinha as vistas negras, só enxergava o escuro, e dizia que assim vivera bem. 
Não via o mundo por imperfeição natural... não via o mundo porque o mesmo havia se tornado uma imperfeição. E isso tornou-se parte de si. 
Por nunca querer ver as imperfeições do mundo, acabou enxergando nada mais, nem mesmo o que belo era na vida, e isto a entristeceu. 
Ela era linda como a flor e encantadora como o desabrochar da aurora, mas era sozinha, pois nunca houvera provado do amor. 
Esgotada do ritmo de vida que levava, resolveu buscar o novo, encontrar cores, buscar formas, ver a luz. Mas, por mais que quisera ver seus olhos brilharem, já não brilhavam mais, não sem as verdades do universo. 
Muitos cidadãos tinham pena da garota das vistas negras, entretanto, ninguém sabia como ajudá-la. 
Mesmo desabilitada da sua visão, gostava muito de passar, tocar nos espaços e objetos para conhecer suas dimensões, sentir o aroma, apreciar o sabor, mas, mesmo com essas percepções, nenhuma imagem aparecia em sua mente. 
Em uma tarde de Setembro, sentada sozinha sem poder visualizar o sol que aos poucos desaparecia e dava espaço para as escuras nuvens, molhou-se com a chuva; um jovem rapaz, que voltara do campo com rosas recentemente colhidas, encontrou a moça inquieta sentado no banco, sem conhecê-la pegou-a pela cintura e a levou para o primeiro refugio que encontrou. A moça, espantada com a atitude do rapaz perguntou se a conhecera, o rapaz impressionado com sua pergunta disse que não fazia ideia de quem a fosse, mas que ao ver sua beleza ficaste encantado, e quisera ajudar. Ele morava em uma fazenda próxima a cidade, era dono de um roseiral, e estava fazendo uma entrega de emergência para uma floricultura próxima dali. Entretanto, ele não conhecia sua história, e ela a ocultara.  
Ambos começaram a encontrar-se secretamente, a conhecer-se melhor. Suas almas foram se entrelaçando, criando um laço de forte apreço. Em seus passeios ocultos conversavam muito, ele contara sobre suas rosas, seus perfumes, cores e formas. Falava como era apaixonado pelas suas flores, enquanto ela sempre fugia de sua história. Ela queria vê-lo, saber quem era o moço de cabelos sedosos e pele macia que tanto a apreciava. Passeando entre suas flores que despertava a paixão, ele dissera o quão estava apaixonado por ela, mesmo ela sendo um enigma para ele. Neste momento, a moça sentiu seu coração palpitar com mais intensidade, e pela primeira vez enxergou uma leve borboleta azul voando em meio ao roseiral iluminado pelo sol, o que trasladou seu olhar para os olhos verdes daquele misterioso rapaz que a despertara para o amor.